sábado, 18 de setembro de 2010

Manifesto da reflexão Teológica Pentecostal das Assembleias de Deus no Brasil

Manifesto da reflexão Teológica Pentecostal das Assembleias de Deus no Brasil

A história da Igreja Cristã é marcada por grandes reuniões de debates teológicos e doutrinários. Foi assim desde Atos 15 até os Concílios históricos de Nicéia, Constantinopla, Éfeso, Calcedônia e Trento, só para citar alguns, passando pelos princípios que ensejaram a Reforma Protestante e chegando às modernas expressões do protestantismo e do movimento evangélico. Esse último, particularmente, tomou feições diversas, sendo o pentecostalismo a mais marcante de todas elas. Como pioneira do pentecostalismo clássico em terras brasileiras, as Assembleias de Deus, através da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil (CGADB), presidida pelo pastor José Wellington Bezerra da Costa, no ensejo das celebrações do seu primeiro centenário, promoveu o seu primeiro Seminário de Reflexão Teológica do Movimento Pentecostal. Foi sob a égide desse pensamento pioneiro que 838 inscritos, entre eles pastores, líderes, membros, professores e seminaristas, reuniram-se entre os dias 26 a 28 de agosto do ano de 2010, na Assembleia de Deus em Campinas, Estado de São Paulo, para refletir sobre a teologia, a prática e o desenvolvimento do pentecostalismo vivenciado ao longo dos cem anos de existência de nossa igreja, com vistas a vislumbrar os possíveis caminhos — com seus contornos e desafios — nos anos vindouros de nossa querida igreja, enquanto aguardamos o faustoso e mais esperado momento da Noiva de Cristo: o Arrebatamento.


Dado o ineditismo do evento, muitas constatações e pressupostos — alguns recorrentes e outros desconhecidos — foram trazidos pelos oradores que, após cada uma de suas exposições, eram inquiridos pelo auditório que participou ativamente dos trabalhos. A cada nova questão, dimensões inexploradas de doutrinas basilares do pentecostalismo — como o batismo com o Espírito Santo, por exemplo —, vieram à tona demonstrando a urgência e a oportuníssima hora em que o Seminário veio a ser realizado.


Considerando a importância da realização e a óbvia impossibilidade de uma participação mais numérica de nossa membresia nacional (que, atualmente, gira em torno de 20 milhões), é que esse manifesto veio a público, para fazer cientes os nossos irmãos de todas as partes do país.
Considerando a natureza do Seminário — doutrinário, teológico, histórico e de prescrição para a vivência pentecostal das Assembleias de Deus — é que a amostragem denominacional que ali foi reunida resolveu, por comum acordo e de bom grado, tornar público esse Manifesto de Reflexão Teológica Pentecostal do Movimento Pentecostal, denominado “Carta de Campinas”.


Considerando a banalização do sagrado que vem ocorrendo em nosso país, através do aumento indiscriminado de diversas formas de manifestação que pretendem se acomodar — ou que são sociologicamente classificadas — ao pentecostalismo, é que resolvemos realizar esse Seminário para reafirmar a obrigatória e devida distinção que precisa marcar o nosso movimento de pentescotalidade clássica.
Isto posto, o referido evento pôs em discussão os seguintes temas: Fundamentos Bíblicos da Teologia Pentecostal, pelo pastor Claudionor de Andrade; As Manifestações do Espírito Santo na História, pelo pastor Isael de Araujo; História e Sociologia do Movimento Pentecostal no Brasil, pelo pastor Eliezer Morais; As Assembleias de Deus — Teologia e Prática, pelo pastor Elienai Cabral; As Assembleias de Deus no Brasil — Como Conciliar o Aprofundamento na Palavra sem Extinguir o Poder do Espírito Santo, pelo pastor César Moisés; e A Influência das Igrejas Neopentecostais no Movimento Pentecostal no Brasil, pelo pastor Esequias Soares.


Da exposição e discussão dos mencionados temas, foram levantadas constatações, seguidas das respectivas proposições, as quais abordamos a seguir:
Temos em nossa denominação três níveis teológicos: 1) as reflexões produzidas através do Currículo de Escola Dominical e o nosso Credo (oficial e aceito pelos órgãos convencionais); 2) seminário (acadêmico); e 3) produzida pelas experiências extáticas que ocorrem à parte da orientação da igreja (algo “não-oficial”).


Perdemos “bandeiras históricas”, como, por exemplo, o anúncio do Evangelho Integral: Jesus salva, cura, batiza com o Espírito Santo e em breve voltará.
As Assembleias de Deus, ao longo de sua existência, tem esposado uma confissão teológica das mais perfeitas e ortodoxas que existem. O nosso pentecostalismo é fruto das manifestações do Espírito Santo ocorridas ao longo dos séculos, mormente, o movimento pentecostal moderno do início século 20. Por sua vez, encontrou ambiente propício em nossa pátria para instalar-se e desenvolver-se, como em nenhuma outra parte da terra.

Somos cristãos (religiosamente falando), herdeiros da teologia reivindicada pelos reformadores, mas ainda não conseguimos exercer influência no aspecto social do país. Corremos o perigo de tornarmo-nos orgulhosos e arrogantes por causa de nossa trajetória histórica. Temos uma estrutura lógica e bíblica, considerada pentecostalismo clássico, que, todavia, não é impedimento ao mover do Espírito Santo.


O fato mais lamentável é que as verdades espirituais do movimento pentecostal têm sido substituídas por artifícios baratos e ensinamentos de modismos e inovações. Tais perigos ameaçam nossa práxis teológica.
Temos uma identificação teológica de confissão de fé declarada e uma espiritualidade cristã constituídas de três elementos principais do cristianismo: 1) crenças e doutrinas; 2) valores; e 3) modo de vida.


Nossa eclesiologia é praticada por meio de uma tríplice relação da teologia, doutrina e tradição.
Constatamos uma inconciliação entre aprofundamento da Palavra e poder do Espírito. Por consequência, elegemos a experiência como elemento fundante de nossa teologia. Tem havido ênfase no emocional em detrimento do racional, confundindo emocionalismo com a “vontade do Espírito” e uma forte tradição à cultura do não pensar. Isso tornou-nos vulneráveis às influências estranhas, por causa de interpretações bíblicas sem fundamento hermenêutico.


Mesmo absolvendo os pioneiros acerca de sua interpretação literalista e espiritualizada da Bíblia, não podemos deixar de constatar que, em decorrência, isso os levou a promover, inconscientemente, uma aversão ao estudo. Tal fato, por sua vez, ensejou várias polarizações, que foram ainda mais exacerbadas com o dualismo platônico e a dicotomia da realidade que já existiam na tradição teológica cristã.


Igrejas pentecostais estão se “neopentecostalizando”. Tal fato se dá por falta de sólida formação bíblico-teológica. Assim, algumas igrejas estão reproduzindo as práticas estranhas à Bíblia e à tradição do pentecostalismo histórico.
Como resultado da reflexão bíblico-teológica das questões acima elencadas, o evento produziu as proposições que seguem abaixo:
Uma vez que temos pontos positivos e negativos, é preciso que vejamos a nossa igreja com objetividade, sem paixão, pois, às vezes, vivemos a “síndrome da simulação”, fingindo que não temos problemas e ambiguidades. Devemos ter apenas um nível teológico (unidade doutrinária, não canais produtores).
Devemos ensinar a Bíblia de maneira metódica. Os pastores devem ser doutores na Palavra, sábios e profundos. Contudo, muitos pastores, por não terem afinidade com a Palavra, acabam transferindo sua responsabilidade para pregadores “itinerantes”.


Precisamos encontrar e praticar um meio termo entre a academia e a prática eclesiástica. As verdades teológicas devem ser sistematizadas no âmbito da igreja e não nas academias. O academicismo não pode ser um fim em si mesmo, mas deve ser utilizado para benefício do Reino de Deus. Na Alemanha, a teologia começou a ser sistematizada no âmbito acadêmico e, infelizmente, acabou desenvolvendo a “teologia liberal”. Na Assembleia de Deus, o contrário ocorreu. Antigamente combatíamos — erradamente — os seminários teológicos. Entretanto, atualmente, estamos vivendo outra realidade, perigosamente próxima a da Alemanha. O principal teólogo é o pastor da igreja. No entanto, os pastores devem ser, antes de teólogos, evangelistas.


Os pastores não devem comungar ou fazer parcerias com homens descompromissados com Deus, a Bíblia e a Igreja. Precisamos ter maturidade teológica para saber distinguir entre os verdadeiros e os falsos líderes.
Reafirmamos que, diante do inegável fato de que o Espírito Santo sempre se manifestou na história, a prática desconstrói o argumento antíbíblico cessacionista.


A história demonstra que nossa trajetória acontece dentro de um contexto. Portanto, faz-se necessário conhecer a igreja em suas várias manifestações ou periodizações. Isso significa que se deve analisar o que a igreja produziu de acordo com sua relação com a Igreja Primitiva e quando essa igreja moderna afastou-se desse modelo.
Cremos que o avivamento também é para produzir reforma social, transformação da realidade e crescimento do Reino de Deus. Não é apenas para que fiquemos nos regozijando ou até mesmo para que fiquemos pulando dentro da igreja.


Rechaçamos toda e qualquer ideia à parte das Escrituras, que venha subtrair o pensamento bíblico, mesmo que isso seja feito em nome do Espírito de Deus.
Precisamos resgatar nossos princípios pentecostais, conservando-se os bons costumes. Esses princípios constituem-se no ensino do batismo com o Espírito com a evidência física e inicial do falar em línguas, os dons espirituais, o compromisso com evangelização e missões, a fé, a esperança e a proclamação do Retorno de Jesus Cristo, a adoração espontânea (não mecânica) e verdadeiramente espiritual e a Bíblia como nossa regra de fé e prática.


Precisamos romper com o dualismo na Teologia Cristã e com a dicotomia da realidade — o que significa mudar nossa concepção acerca do homem e do mundo. Precisamos constantemente reavaliar nossas ideias teológicas, à luz da Bíblia, confirmando e desenvolvendo nossas crenças e práticas pentecostais.
Precisamos cultivar uma disciplina de leitura, principalmente a da Bíblia, para erradicar o obscurantismo.


Não nos interessa reproduzir modelos que não coadunam com os fundamentos do pentecostalismo clássico, crendo que esses, por si só, são suficientes para manter a marcha do crescimento e da expansão do Evangelho em todo o território nacional, sob o poder do Espírito Santo.
Devemos primar pelo equilíbrio tanto no ensino bíblico e teológico como na prática da vida cristã, considerando ambas necessárias para um pentecostalismo sadio, genuíno e que cumpra a missão de tornar conhecida a mensagem do Evangelho — propósito primário do batismo com o Espírito Santo.


Concluímos que cem anos não é um fato para apenas comemorar e acomodar-se, mas para despertar-nos a continuar pregando a mensagem que deu início à nossa caminhada em território nacional: Jesus salva, cura, batiza no Espírito Santo e em breve voltará.

 
 
FONTE: CPADnews http://www.cpadnews.com.br/integra.php?s=12&i=4330

5 comentários:

  1. Amado Pastor, o que mais me deixa triste é ver a AD, além de estar se conformando com os modismos neopentecostais, se dividindo em várias facetas doutrinárias com aparência nada espiritual e fora da baliza do cânon Sagrada. Teremos no próximo ano duas comemorações do centenário da nossa denominação paralelamente com aspecto clarividente de competitividade. Cada liderança condenando a outra e, se tivesse ao seu alcance, mandaria o seu oponente para o inferno. Isso é uma vergonha! Por isso, temos que fechar os olhos pra tudo isso e se agarrar com a Palavra de Deus, lendo-a e estudando-a sistematicamente e dedicadamente. Cada crente tem que se cuidar espiritualmente e desconfiar de todos os forasteiros pregadores que se apresentam com cara de cordeiro, mesmo sendo da AD, trazendo mensagens duvidosas. Crentes bereanos é o modelo a ser imitado nestes últimos dias de nossa dispensação.
    Um abraço e a Paz do Senhor
    Luciano Lourenço – AD – Fortaleza-Ce

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  2. Irmão Luciano,

    É exatamente isso que tem acontecido em nossa amada Assembleia de Deus.
    Infelizmente o dualismo tem acometido nossa organização, e é necessário a estrutura espiritual, ou seja, organismo, estar em processo íntimo com o seu fundador(Jesus) e sua Palava.
    Que esta reflexão teológica venha-nos tirar do comodismo...

    Cordialmente,
    Weder F. Moreira

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  3. Graça e paz!
    Fico admirada com sua sabedoria, és tão novo e tão dedicado à obra de Deus. Que o Senhor continue te usando nesse ministério.

    Um bom domingo em Deus. ✿*.º✿.。.: . ✿*.º✿.。.: .

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  4. Graça e Paz!

    Irmã Fátima Fraga,
    Obrigado pelas palavras de estímulo e apreço...
    Orai por mim!
    Deus a abençõe infinitamente!!!

    Cordialmente,
    Weder F. Moreira

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  5. A paz do Senhor! De os parabens ao pastor Nelsom pelo título de cidadão ituveravense, ele merece pois é um homem ilibado e de carater sadio, uma refer~ecia para o meu ministério, mormente porque os dias são maus e muitos já se corromperam. abraço! Pastor Mauro

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